Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores
(Geraldo Vandré)
Caminhando e
cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção.
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção.
Vem, vamos
embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer.
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer.
Pelos campos
há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
Vem, vamos
embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer.
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer.
Há soldados
armados,
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão
Vem, vamos
embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer.
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer.
Nas escolas,
nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não.
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não.
Os amores na
mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição
Vem, vamos
embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer.
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer.
Comentário sobre a música:
Entre
tantas músicas, que de uma forma ou de outra nos conta os longos 20 anos de
ditadura, existe uma em especial: “Pra não dizer que não falei das flores”.
Composta por Geraldo Vandré, um homem paraibano, que depois de 1968 sumiu e
ficou durante anos em silêncio, mas que deixou como herança para as novas
gerações, uma composição que por muitos é considerada um hino contra a
ditadura, alguns ainda dizem que é a Marselhesa brasileira. Marselhesa foi um
canto de guerra revolucionário que acompanhava a maior parte das manifestações
francesas, e em 1975 tornou-se hino nacional da França.
Caminhando
e cantando e seguindo a canção / Somos todos iguais braços dados ou não: representa as passeatas que
reuniam, em sua maioria, jovens que tinham consigo um desejo de mudança,
ambições e sonhos, eram movidas a cartazes de protestos, a vozes gritantes que
entoavam hinos e músicas. Essa frase também nos mostra que independente de
crenças e idéias, as pessoas são iguais, estando elas do mesmo lado ou não.
Nas
escolas nas ruas, campos, construções: as
manifestações eram compostas de pessoas de diversos ambientes, mas que possuíam
o desejo de mudança em comum: agricultores, operários, camponeses, mulheres,
jovens, professores, jornalistas, intelectuais, padres e bispos. No caso de
professores, jornalistas e intelectuais eles eram censurados e vigiados, o que
depois de AI-5 ocorreu com maior intensidade, os professores não podiam
lecionar e mencionar nada referente ao golpe, os jornalistas tinham seus
artigos e matérias cortadas pela censura e os intelectuais eram proibidos de
disseminar suas idéias e também de publicá-las. Nas universidades não havia
vagas e muitos jovens não conseguiam estudar, mulheres eram descriminadas e
impedidas de trabalhar, os operários sofriam com os baixos salários,
agricultores e camponeses tinham suas terras ocupadas e os padres e bispos eram
ameaçados, presos e muitas vezes expulsos do país. Então a maneira encontrada
para protestarem pelos seus direitos, era juntar-se aqueles que também possuíam
idéias de mudança e desejo por um país melhor.
Vem,
vamos embora, que esperar não é saber: esse
trecho contesta sobre aqueles que sofriam o momento na pele e não faziam nada,
afinal não se muda um país, ficando parado. Quem sabe faz a hora, não espera
acontecer: refere-se também a essas pessoas que preferiam ficar em silêncio em
vez de tentar alcançar a mudança junto aos estudantes e aos demais.
Pelos
campos há fome em grandes plantações: as pessoas que trabalhavam nos campos, ou que eram
agricultores, também sofriam com a ditadura, os poucos que possuíam um pedaço
de terra a mesma lhe era tomada, os camponeses muitas vezes eram despejados e
acabavam por passar fome.
Pelas
ruas marchando indecisos cordões: cordões
é como ficou conhecido os grupos de foliões que tomavam as ruas durante o
carnaval, o nome refere-se a característica dos grupos serem formados de forma
que as pessoas se sucedem. Assim era composta algumas das manifestações, como
foi o caso da Passeata dos Cem Mil, que parecia ser dividida em blocos:
artistas, mães, padres, intelectuais e entre outros, que em muitos casos,
caminhavam indecisos ou com medo dos militares.
Ainda
fazem da flor seu mais forte refrão / E acreditam nas flores vencendo o canhão: enquanto os militares reprimiam
os protestantes com canhões, bombas de gás, e armas, a população saia nas ruas
com cartazes e com a força de suas vozes, muitos atirando pedras e tudo o que
se estivesse ao alcance, mas nada parecia ser tão forte e provocante quanto os
gritos, as palavras de ordem dos movimentos estudantis, frases e músicas
daquele ano, essas sim eram suas verdadeiras flores. Mas começaram a surgir
grupos que não acreditavam mais em democracia sem a violência, alguns grupos de
radicais se formavam e gritavam em coro: “Só o povo armado derruba a ditadura”,
enquanto do outro lado um grupo militante gritava: “Só o povo organizado
conquista o poder”.
Há
soldados armados, amados ou não / Quase todos perdidos de armas na mão: os soldados estavam sempre
armados e dispostos a prender os manifestantes e levá-los para as salas do
DOPS, porém, muitos pareciam alienados, não sabiam direito o que acontecia ou
fingiam não saber, para quem sabe assim se redimir da culpa de tantas mortes e
“desaparecimentos” da época. Mas tinham famílias, namoradas, mãe, irmãos podiam
sim ser amados por alguém ou então odiados por todos. Muitas manifestações
foram, sobretudo contra a violência dos policiais.
Nos
quartéis lhes ensinam antigas lições / De morrer pela pátria e viver sem
razão: Os soldados
aprendiam lições e como se houvesse uma lavagem cerebral aceitavam cumprir as
ordens do governo, mas acredito que em sua maioria muitos sabiam exatamente o
que faziam e concordavam com os planos e métodos. Como diz a frase eles
aceitavam morrer pelo seu país, mesmo que para isso eles fossem recriminados
pela população e tivessem que viver sem anseios e sem razão, afinal de contas
eles só serviam para fazer o trabalho pesado para os governantes.
Somos todos soldados, armados ou não: na contradição de ser ou não soldados, todos
eram, a diferença esta nas armas e na motivação.
Somos todos soldados, armados ou não: na contradição de ser ou não soldados, todos
eram, a diferença esta nas armas e na motivação.
Os
amores na mente, as flores no chão / A certeza na frente, a história na
mão: a maioria, se
não todas as pessoas que participavam ativamente dos manifestos eram motivados
pelas perdas que sofriam, pelas mortes de amigos, parentes, conhecidos, pela
dúvida do que aconteciam com as pessoas que eram levadas. Alguns dos jovens
quando crianças viram seus pais serem levados por policiais e nunca mais tiveram
noticias, muitos viram seus amigos morrerem e o corpo simplesmente desaparecer
e acabavam por não ter direito ao enterro, alguns poucos voltavam e de outros
nunca mais se ouvira, eram guiados pela certeza de que poderiam mudar o mundo e
pela história que cada um deles possuía.
Aprendendo
e ensinando uma nova lição: Grande
parcela dos jovens brasileiros de hoje, desconhecem o período de 10 anos desde
o golpe militar até o fim da ditadura, o desejo de mudança, a fome por
liberdade e a coragem de lutar não está entre as principais prioridades do
jovem do século XXI. O conformismo, a tecnologia, e várias outras novidades que
surgiram após 1968, impedem que estudantes despertem em si os mesmos desejos de
mudança. Muitos jovens não conseguem imaginar que existiu um tempo em que não
havia internet, raves, DVD, CD, TV em cores e muito menos TV a cabo, shopping
centers, big brother, MSN, orkut, entre outras coisas. Os jovens são movidos a
saciar seus desejos e vontades muitas vezes supérfluas e estão mais preocupados
com o próprio bem-estar, muitos desperdiçam o direito de voto, que infelizmente
só foi conquistado após ditadura, direito esse que tanto foi motivo de luta dos
jovens que almejavam garantir sua opinião e participar da história do próprio
país.
Insatisfação contra a corrupção, violência, injustiça, leis, governos, escolas, mas não passam de apenas reclamações. A música de Geraldo Vandré é clara, nos conscientiza e informa sobre o ano de 1968 e os demais que se seguiram de ditadura militar, nos faz repensar sobre atitudes e ideais, sobre o velho e o novo, e de como o ditado “um por todos, e todos contra um” foi tão intenso durante aqueles anos, os estudantes podem não ter derrubado a ditadura, mas foram vistos e foram parte importante e indispensável da história. É decepcionante saber de que nos tempos atuais, aceitamos o que nos é imposto, fazemos parte de uma massa que cada vez mais parece alienada e movida às tecnologias. Não conseguimos nos separar de bens materiais e tampouco lutar contra isso, nos conformamos e ficamos aprisionados, o ano de 1968 ficou apenas como exemplo de uma geração de jovens com ideais, alguns alienados sim, mas a maioria com esperança de um país melhor e capaz de lutar pela liberdade e por aquilo que era lhes eram imposto.
Mesmo depois de 40 anos essa composição ainda pode nos expor a importância da luta pelos nossos objetivos, desejos e ideais, mas principalmente de como o conhecimento dos próprios direitos e deveres é imprescindível para que se construa uma sociedade melhor e democrática, além de ser o nosso principal dever como cidadão.
Insatisfação contra a corrupção, violência, injustiça, leis, governos, escolas, mas não passam de apenas reclamações. A música de Geraldo Vandré é clara, nos conscientiza e informa sobre o ano de 1968 e os demais que se seguiram de ditadura militar, nos faz repensar sobre atitudes e ideais, sobre o velho e o novo, e de como o ditado “um por todos, e todos contra um” foi tão intenso durante aqueles anos, os estudantes podem não ter derrubado a ditadura, mas foram vistos e foram parte importante e indispensável da história. É decepcionante saber de que nos tempos atuais, aceitamos o que nos é imposto, fazemos parte de uma massa que cada vez mais parece alienada e movida às tecnologias. Não conseguimos nos separar de bens materiais e tampouco lutar contra isso, nos conformamos e ficamos aprisionados, o ano de 1968 ficou apenas como exemplo de uma geração de jovens com ideais, alguns alienados sim, mas a maioria com esperança de um país melhor e capaz de lutar pela liberdade e por aquilo que era lhes eram imposto.
Mesmo depois de 40 anos essa composição ainda pode nos expor a importância da luta pelos nossos objetivos, desejos e ideais, mas principalmente de como o conhecimento dos próprios direitos e deveres é imprescindível para que se construa uma sociedade melhor e democrática, além de ser o nosso principal dever como cidadão.
vocabulário:
Pólis-Política
Nenhum comentário:
Postar um comentário